Somos finalistas do Prêmio ABEU/2025
“AIDS e envelhecimento homossexual: representações gerontológicas e a linguagem da patologia”, de João Paulo Gugliotti, é finalista do Prêmio ABEU 2025, na categoria Ciências da Vida. Resultado de sua pesquisa de doutorado desenvolvida entre 2017 e 2021 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e no Departamento de História da Ciência da Universidade de Harvard, sob a orientação de Richard Miskolci e Sarah S. Richardson, a obra articula sociologia, história da ciência e estudos de gênero para examinar a forma como o conhecimento biomédico produziu e transformou as representações da homossexualidade ao longo das últimas décadas.
O livro realiza uma análise sociológica das continuidades e rupturas nas pesquisas sobre homossexualidade e envelhecimento entre 1970 e 2018, com especial atenção ao modo como as ciências biogerontológicas enquadraram a homossexualidade a partir do paradigma da inclusão-diferença. Esse paradigma, consolidado nos anos 1990, redefiniu políticas de pesquisa e estratégias de recrutamento de populações para ensaios clínicos randomizados nos Estados Unidos, expressando tensões entre ideais de diversidade e dinâmicas de exclusão no campo científico.
Além do universo das políticas de pesquisa, Gugliotti ilumina um outro cenário essencial para compreender o entrelaçamento entre ciência, moralidade e sofrimento social: o ativismo do grupo Mothers of Patients with AIDS, em Nova York. Por meio desse estudo, o autor evidencia as complexas relações entre a ausência de políticas públicas abrangentes de saúde, os dilemas éticos e afetivos suscitados pela epidemia de AIDS e o papel das mães, familiares e organizações civis na disputa por reconhecimento e dignidade.
A obra mostra, com rara sensibilidade analítica, como as classificações estigmatizantes e os discursos patológicos não apenas moldaram as fronteiras da homossexualidade e do envelhecimento, mas também suscitaram formas de resistência e reapropriações discursivas por parte das pessoas afetadas pela AIDS. Assim, AIDS e envelhecimento homossexual é, ao mesmo tempo, uma contribuição à sociologia da saúde, à história da sexualidade e aos estudos críticos sobre ciência — revelando como as narrativas biomédicas podem ser, também, arenas de luta simbólica e política.
Com sua escrita precisa e humanamente implicada, o livro reafirma o compromisso da sociologia com a tarefa de compreender as vidas que a ciência nomeia, classifica e, por vezes, silencia — e, por isso, representa uma contribuição singular para o pensamento contemporâneo sobre saúde, envelhecimento e diversidade.
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